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Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, 04 de janeiro de 2011.

ANÁLISE PROGRESSÃO CONTINUADA

Implantação do sistema de ciclos pulou etapas

No papel, o modelo faz sentido, pois se há algo de estranho no mundo da pedagogia, está na noção de reprovação


POR QUE DIABOS UM ALUNO QUE TENHA IDO MAL EM LÍNGUA PORTUGUESA PRECISA REFAZER TODOS OS CONTEÚDOS DE MATEMÁTICA?

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Ciclos devem ter três, quatro ou cinco anos? Ou dois, como já se havia proposto? A discussão tem algo de bizantino e não vai ao cerne dos problemas enfrentados pela progressão continuada.

No papel, o sistema faz sentido. Se há algo de estranho no mundo da pedagogia, ele está na noção de reprovação.

Por que diabos um aluno que tenha ido mal em, digamos, língua portuguesa precisa refazer todos os conteúdos de matemática e ciências? Por que alguém que domine 50% da matéria é considerado apto a seguir com os estudos e a pessoa que responde a 49% das questões é reprovada? O que há de tão transcendental nesse 1%?

As perguntas se tornam mais candentes quando se considera o estrago que a repetência provoca na vida do aluno. Quando o jovem recebe a pecha de repetente, tende a desempenhar o papel por toda a vida acadêmica.

Com a redução da reprovação possibilitada pelos ciclos, caiu o índice de evasão escolar no ensino fundamental paulista. Entre 1998 e 2008, ele baixou de 4,6% para 1,4%, redução de 70%.

É muito mais razoável, como prevê a teoria da progressão continuada, que a escola identifique tão rapidamente quanto possível os alunos que não estão assimilando os conteúdos e procure corrigir a situação.

Isso envolve toda uma estrutura de avaliação fina, aulas de reforço e apoio psicopedagógico com o qual a rede pública não conta.

Pior até, a implantação do sistema de ciclos, iniciada em 1997, foi feita de forma desastrosa. A mudança foi ditada de cima para baixo sem explicar a alunos, pais e professores o que se pretendia.

Mestres boicotaram a reforma -com o fim da repetência, perderam uma poderosa ferramenta disciplinar.

Pais não compreenderam nada ao verem seus filhos "passando de ano" sem saber ler.

Na prática, a progressão virou uma aprovação automática que, embora não explique as deficiências do ensino, ajuda a perenizá-las.

Mas não há mágica. Não é aumentando o número de ciclos que a situação vai mudar. Será preciso criar estruturas que a escola não tem e trazer melhores professores.

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