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Matéria publicada no Jornal da Tarde, 02 de fevereiro de 2011 - São Paulo SP

Cai pela metade número de formandos em Pedagogia

LUCIANA ALVAREZ 

O número de formandos nos cursos que preparam docentes para os primeiros anos da educação básica – como Pedagogia e Normal Superior – caiu pela metade em quatro anos, de acordo com os últimos dados do Censo do Ensino Superior, realizado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). De 2005 a 2009, os alunos que concluíram essas graduações foram de 103 mil para 52 mil, um indicador do desinteresse dos jovens pela carreira. Houve queda também nos graduandos em cursos de licenciaturas, que preparam professores para atuar no ensino médio e últimos anos do fundamental – foram 77 mil em 2005, contra 64 mil em 2009. No mesmo período, o total de estudantes concluintes do ensino superior no Brasil cresceu de 717 mil para 826 mil. Ao mesmo tempo em que o Brasil forma menos professores, o número dos que estão em sala de aula sem diploma vem crescendo. Docentes sem curso superior somam 636 mil nos ensinos infantil, fundamental e médio – o que representa 32% do total. Em 2007, eram 594 mil sem diploma.

Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Carlos Eduardo Sanches, a queda na quantidade de formandos é “preocupante”. “Os municípios   se preparam para ampliar o número de matrículas para crianças de 4 e 5 anos, que se tornarão obrigatórias em 2016. Isso projeta um cenário de falta de docentes”, afirma. Especialistas em ensino dizem que o Brasil já enfrenta um déficit de professores nas redes públicas. “Muitos desses formandos preferem seguir na área acadêmica, ir para colégios particulares ou atuar em outras áreas, onde ganham mais. Eles não vão para as escolas públicas”, diz Mozart Ramos Neves, integrante do movimento Todos Pela Educação.

Para reverter o quadro e trazer mais jovens para o magistério, Mozart Neves aponta três medidas. “Precisamos de um salário inicial atraente para o jovem, ter uma carreira promissora e dar boas condições de formação e de trabalho”, recomenda. “Enquanto não houver um pacto nacional pela valorização do professor, não resolveremos o problema.” A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Márcia Malavasi, diz que a desvalorização do magistério tem feito muitos docentes abandonarem a carreira e muitos jovens desistirem antes mesmo de entrarem na faculdade. “Ao procurar informações sobre a profissão e conversar com quem atua na área, os jovens não têm  ouvido boas recomendações e se desmotivam”, afirma. Malavasi também crê que os alunos, de forma geral, acabam prejudicados pelo fenômeno. “O professor que está em sala deixa claro que não gostaria de estar lá e, mesmo assim, o aluno precisa se submeter. Isso cria um ambiente desfavorável ao aprendizado”, diz.

A docente da Unicamp lembra que existem contudo, exceções. “Professores em algumas escolas de grandes centros têm bons salários e sentem-se valorizados.” Quem entra no curso de Pedagogia, além do amor pela sala de aula, costuma ter também um plano alternativo de carreira. É o caso de Regiane Ferreira, de 22 anos, que cursa o último ano de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Assim que me formar, vou tentar um mestrado. Quero seguir a carreira acadêmica”, diz. “Vou tentar conciliar a pós-graduação com dar aulas na rede municipal de Marília, mas se não der posso pedir uma bolsa.” O músico profissional Welington das Neves Moreira, de 53 anos, terminou há um semestre o curso de Pedagogia e afirma estar animado para tentar um concurso e dar aulas na rede pública de São Paulo. “Sei que não é uma carreira fácil, mas tive boas experiências nos estágios. Se não der certo, continuo tocando.” 

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