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Matéria Publicada no Jornal da Tarde, 8 de fevereiro de 2011.

Por que ninguém quer mais lecionar no Brasil

As pesadas, caras e inertes máquinas burocráticas que administram a educação no Brasil deveriam estar a estas alturas do campeonato debruçadas sobre um dado assustador que não pode cair no esquecimento, sob pena de continuarmos perdendo a corrida pela competição no mundo globalizado. O Censo da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), realizado a cada ano, constatou que o total de diplomados nos cursos de Pedagogia e Normal Superior-que preparam professores para o ensino básico - caiu pela metade em 4 anos. Em 2009, 52 mil alunos de pedagogia receberam seus diplomas e ingressaram no mercado de trabalho, enquanto em 2005 foram 103 mil. Não se trata de um fenômeno concentrado no corpo docente das primeiras séries, pois em 2005 foram graduados nos cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos mestres nas últimas séries do ensino fundamental, 77 mil jovens, 13 mil a mais (17%) do que os 64 mil de 2009. Ou seja, enquanto aumentamos alunos na base da pirâmide escolar, escasseiam os mestres no topo. Enquanto isso, no mesmo período, o total de professores formados para lecionar no ensino superior subiu de 717 mil para 826 mil - 14% a mais.

Isso resulta, em primeiro lugar, da queda de prestígio social do professorado de hoje comparado com o gozado por quem lecionava nas escolas de primeiro e segundo graus há meio século, que tinham suas fotografias de canudo em punho exibidas, com orgulho nas paredes das salas de visita das casas de seus familiares. Hoje o professor não tem mais o mesmo status daquele tempo. E o que é pior: isso resulta em parte da queda vertiginosa da remuneração de sua atividade. Além disso, os docentes são ameaçados em escolas públicas degradadas em bairros periféricos dominados pelo crime organizado e humilhados nas escolas particulares por pais que consideram seu eventual zelo pelo ensino um obstáculo para o futuro de seus filhinhos pouco interessados em aprender algo.

Para conter essa evasão em massa provocada pela busca dos jovens por cursos que os remunerem melhor e prestigiem mais, o MEC criou o piso nacional para professores, um passo para unificar os salários no começo da carreira. O deste ano, R$ 1.183, nada estimulante, não é cumprido em 6 Estados da Federação por falta de verbas. Outra providência foi lançar o Plano Nacional de Formação de Professores para qualificar os 636 mil docentes da rede escolar pública. A ideia é boa, mas na prática ainda não surtiu o efeito esperado pelas autoridades.

O problema só pode ser resolvido por aí mesmo - só que de forma efetiva. O susto dado pela constatação do Censo deveria mobilizar governo e sociedade para aumentar o salário inicial e garantir melhores condições de trabalho para os professores. Se a redução dos professores continuar neste ritmo, o passivo educacional brasileiro, que já é reconhecidamente enorme, se traduzirá em hordas de jovens despreparados para produzir.