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Matéria publicada no jornal Gazeta do Povo - Curitiba PR, 22 de julho de 2011.

Como melhorar o ensino

Receita para tornar o aprendizado em sala de aula mais eficiente inclui professor interessado e turmas menores e mais homogêneas

Paola Carriel


Pesquisadores de quatro universidades brasileiras analisaram 165 estudos nacionais e internacionais sobre aprendizado escolar e concluíram que o fator mais importante em sala de aula é a qualidade do professor. Uma das análises revelou que um bom docente aumenta em até 68% a proficiência do aluno. O levantamento faz parte de uma iniciativa do movimento Todos pela Educação e do Instituto Ayrton Senna, cujo objetivo é apontar caminhos para a melhoria do ensino no Brasil. Hoje, os estudantes brasileiros alcançam resultados negativos tanto em avaliações nacionais como internacionais. Alunos da 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e do 3.º ano do ensino médio não atingem metas mínimas. Na média nacional, nenhuma série consegue ter ao menos 35% da turma com o aprendizado correto para a idade.

O tamanho e a composição da turma ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking dos fatores que mais influenciam a capacidade de aprendizado. Classes menores permitem atendimento individualizado e turmas homogêneas – com alunos da mesma idade e desempenho semelhante – facilitam o preparo da aula e a exposição do conteúdo. Em seguida vem o calendário escolar – com fatores como o número de dias letivos e de faltas dos docentes – e a experiência do professor em sala de aula. Conselheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que é da qualidade do docente que parte toda a aprendizagem. “O professor é o elemento central, é dele que depende a capacidade não apenas de ensinar, mas de provocar e estimular.” Outro ponto ressaltado durante o levantamento é a importância do engajamento da comunidade escolar e da família, o que mostra que não são somente fatores objetivos que influenciam este processo. Ramos lembra que, após os resultados do Ideb de 2007, o Unicef fez um levantamento e comprovou que os melhores colégios eram aqueles com alto poder de mobilização. A infraestrutura e os recursos pedagógicos são fundamentais para o aprendizado, mas o levantamento realizado pelos pesquisadores demonstra que ainda faltam estudos para avaliar os impactos negativos de uma escola sem acesso à rede de esgoto ou quadra poliesportiva, por exemplo.

Consultor da Unesco e professor da Universidade de Brasília (UNB), Célio da Cunha argumenta que a escola precisa de infraestrutura básica para garantir a aprendizagem. “Para incentivar a leitura é preciso uma biblioteca e o estudante precisa também ter acesso a novas tecnologias. Por outro lado, como estudar em uma sala que não tem ventilação adequada?”, questiona. O levantamento confirmou que questões simples, como dever de casa e atividades extracurriculares, são importantes no aprendizado, embora ainda faltem pesquisas nestas áreas. No caso do dever, por exemplo, a eficiência é ainda maior quando o docente corrige a tarefa. Pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Evelise Portilho afirma que a aprendizagem não ocorre somente no ambiente formal. Por isso, o dever e outras atividades podem ser decisivos. “Isso auxilia o estudante a buscar outras estratégias e caminhos que vão além da sala de aula.”

Bom exemplo - Apucarana, no Norte do estado, parece ter encontrado o caminho para garantir o aprendizado mínimo de todos os estudantes da rede pública. Em 2009, a nota do Ideb do município alcançou seis, meta estimada pelo governo federal para o Brasil apenas em 2022. Todos os 10.238 alunos ficam em período integral, projeto que começou a ser implantado em 2001. Os gestores investem 32% da arrecadação em educação, sete pontos porcentuais a mais do que estipula a Constituição. Claudio Silva, responsável pela autarquia de educação de Apucarana, explica que o resultado mais positivo é a equidade da rede. Hoje 60% das escolas estão na média ou acima de seis, 29% estão a meio ponto da meta e apenas 10% estão um ponto atrás. “É o resultado de muito esforço. Para os professores, o maior ganho é a autoestima.”

Pesquisa reduz importância da titulação acadêmica - Os mais de 150 estudos analisados desmitificam algumas ideias de senso comum sobre a figura do professor, entre elas a relação entre titulação acadêmica e desempenho. Um docente formado nas me­­lhores universidades traz impactos positivos, mas a mesma correla­ção não existe com a conclusão ou não de um mestrado, por exemplo. Pesquisas mostram que, entre estudantes da mesma escola e vindos de ambientes familiares semelhantes, não há diferença de aprendizado quando o professor tem formação superior ou completou uma pós-graduação. Conse­lheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que uma das possibilidades é que há um descompasso entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido para os alunos da educação básica, por isso não há um impacto direto.

Motivação - Outra hipótese é que as pesquisas existentes não conseguem mensurar a motivação dos docentes. Se um determinado professor tem o magistério como primeira opção certamente será melhor que alguém lecionando por simples falta de alternativa profissional, ainda que este tenha titulação acadêmica maior. Por fim, uma última alternativa é que estabilidade, segurança e melhor remuneração oferecidas a quem tem maior titulação possa ter impacto negativo sobre o esforço do professor em sala de aula. “De fato, qualquer privilégio definido segundo o nível educacional, em particular a diferença de remuneração, pode também servir de desestímulo ao esforço dos professores”, dizem os pesquisadores do Todos pela Educação no documento.