Destaques

 

 

Matéria publicada na Folha de São Paulo, 23 de março de 2012.

Alckmin acaba com aulas de reforço
na rede paulista

Atenção extra será dada por 2º professor durante horário regular de estudo

Educadores criticam mudança do sistema, que segundo governo passará a ser adotada já neste ano letivo

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

A Secretaria da Educação decidiu abandonar o reforço dado a alunos com dificuldades de aprender o conteúdo das aulas na rede paulista.

Esse reforço era previsto desde 1997. Ocorria durante o ano letivo num período diferente das aulas regulares -quem estudava de manhã tinha ajuda extra à tarde e vice-versa. Os estudantes assistiam de duas a três aulas extras semanais, ministradas por professores da própria rede.

Agora, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) quer atender esses alunos com dificuldade colocando mais um professor na sala para acompanhá-los nas aulas regulares, ou seja, no mesmo momento em que as matérias são ensinadas.

As aulas de reforço são um dos pilares do sistema de ciclos, em que não há reprovação a cada série. A ideia é que o aluno pode superar a defasagem de conteúdo sem que precise refazer um ano todo -as aulas de recuperação de fim de ano, por exemplo, foram abandonadas quando o sistema de ciclos foi adotado.

SEM PROFISSIONAIS

A medida que acaba com as aulas de reforço durante o ano letivo é anunciada em meio a uma crise de falta de professores -nos últimos meses, o governo chegou a chamar para dar aula até docentes reprovados no teste de admissão.

"O pano de fundo é a falta de investimento, pois a recuperação exigia mais salas e professores", diz Maria Marcia Malavazi, coordenadora de pedagogia da Unicamp.

Professores da capital, Campinas e Ribeirão Preto disseram que o motivo alegado pelos diretores para a mudança é a falta de educadores para a recuperação extra justamente por causa do projeto do segundo docente.

O plano de colocar dois professores em sala de aula para acabar com as aulas extras de reforço será aplicado apenas em salas grandes.

Isso quer dizer que, se o aluno estiver numa sala menor e tiver dificuldades, ficará sem nenhum apoio extra.

O segundo professor atuará em turmas com 25 alunos ou mais nos primeiros anos do ensino fundamental; 30 nos anos finais; e 40 no ensino médio. O governo diz que, nas demais, o reforço deverá ser feito pelos docentes titulares durante aulas regulares.

A Secretaria da Educação não informou o universo de turmas nessa situação.

Segundo o governo, a chamada recuperação paralela contava com "baixa frequência". O governo, porém, não deu dados sobre a frequência.

"O fim do reforço desconsidera que há quem precise ficar mais tempo na escola", diz Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP.

Agora, ajuda a aluno será mais eficaz, diz governo

Segundo Secretaria da Educação, professor extra
começará a atuar em maio

Mudança foi solicitação de professores feita em reuniões regionais realizadas em 2011, afirma gestão Alckmin

DE SÃO PAULO

A Secretaria de Estado da Educação afirmou ontem em nota que abandonou a recuperação paralela ministrada em aulas extras porque havia uma "baixa frequência de alunos no contraturno [período fora da aula regular]".

Além disso, disse a secretaria na mesma nota, a alteração "foi uma das solicitações de representantes de profissionais da rede nas 15 reuniões nos polos regionais, realizadas no ano passado, que contou com 20 mil educadores".

A Apeoesp, sindicato dos professores da rede paulista, diz que essas reuniões nos polos regionais não têm representatividade. A categoria, portanto, não foi completamente consultada antes que o governo decidisse acabar com as aulas extras de reforço durante o ano letivo, afirma a Apeoesp.

O sindicato dos professores não quis fazer, no entanto, comentários sobre a mudança recém-anunciada.

INÍCIO

A gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse ainda que a mudança que introduzirá um segundo professor na sala de aula trará "ferramentas mais eficazes de recuperação" dos alunos com dificuldade de aprendizado.

A modalidade que vale para o ensino fundamental e médio prevê o segundo professor em parte das classes.

A previsão da secretaria é que esses docentes auxiliares comecem a atuar em maio, "quando já terão sido identificadas as necessidades de recuperação dos alunos".

Eles atuarão em turmas que extrapolarem o mínimo de alunos fixado pela secretaria. Nas turmas menores, "a recuperação será feita pelo docente titular, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional".

A prática de manter uma ajuda extra na sala começou na gestão do ex-governador José Serra (PSDB). O auxiliar, porém, não era professor formado, e sim um universitário.

No ensino fundamental, foram criadas "turmas especiais" para alunos com dificuldade nos quarto, quinto, sétimo e nono anos.

Nessas classes -que têm em média 20 alunos-, os estudantes assistem às aulas regulares, mas com atenção maior do professor, pois são menores que a média.

"Os novos mecanismos visam atender às diversas características e ritmos de aprendizagem, a fim de melhorar o desempenho dos estudantes", afirma a secretaria.

Bônus serão ampliados na educação

O governador Geraldo Alckmin anunciou ontem que 260 mil servidores da Educação vão ganhar no dia 30 bônus por desempenho, ante 190 mil no ano passado. O benefício, que pode ser superior a dois salários do professor ou funcionário, depende do desempenho de sua escola no Idesp (avaliação de qualidade).

 


    Destaque Anterior | Próximo Destaque

 

 

 

 

 

 
Filie-se à Udemo