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UDEMO | 13/05/20 | Atualizado em 13/05/20 17:41


ZONA DE CONFORTO OU DE DESCONFORTO?

 

“Zona de conforto”, na psicologia, é “uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco” (Wikipédia). Também, usa-se essa expressão em sentido pejorativo como sinônimo de preguiça, vagabundagem. Uma pessoa na sua “zona de conforto” é aquela que “não quer nada com nada”. É o caso dos “professores preguiçosos que ficam em casa tomando suco de laranja”, nas palavras do governador do Estado. (Folha de São Paulo, 21/02/ 2020)

“Ensino a distância na quarentena esbarra na realidade de alunos e professores da rede pública”. Este é o título da matéria feita pelo jornalista Dani Borges correspondente da BBC News Brasil, em São Paulo, e publicada no dia 11 de maio de 2020. (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52568678).

Dani Borges, fazendo uma matéria isenta, destaca os pontos - chave do ensino a distância durante a quarentena, e ouve pessoas envolvidas no processo. Ele parte da premissa correta ao afirmar - e resumir-, que “o ensino a distância na quarentena esbarra na realidade de alunos e professores da rede pública, e que desde que a quarentena teve início no Estado de São Paulo, um cenário de incertezas pairou sobre pais, alunos e professores. A Secretaria de Estado da Educação (SEE) conseguiu colocar no ar uma plataforma gigantesca, que permite conectar alunos e professores. A iniciativa, porém, esbarra em uma dura realidade: dificuldades dos alunos, seja pela falta de internet ou estrutura familiar, e a falta de preparo dos professores para lidar com a plataforma e todas as mudanças na forma de ensinar”. Vários depoimentos confirmam essa constatação, acrescentando-lhe um outro dado: os erros da Secretaria da Educação. São citados: dificuldade de acesso ao sistema, falta de infraestrutura (rede e aparelhos para as escolas e os alunos), falta de planejamento para o uso das ferramentas digitais, falhas na programação, (falta de) qualidade das aulas apresentadas, desconexão entre as aulas e o currículo, uso de uma mesma aula para séries diferentes, aulas padronizadas para toda a rede (que é heterogênea), excesso de burocracia (principalmente exigência de relatórios), cobranças e ameaças, informações desencontradas. Ouvido, um professor defende a educação a distância, ressaltando, porém, que ele deveria ser implantado num processo progressivo. “As crianças estão no mundo digital, mas não têm a cultura digital do aprendizado. E isso é um processo que precisa de tempo.” Para o Diretor Acadêmico da Faculdade FAEL, uma das pioneiras no processo de EaD no país, Fabio Fonseca, o ensino a distância é uma ferramenta valiosa, mas é preciso tempo e organização para que os professores possam aprender a usar essa ferramenta. Não se pode passar do modelo presencial para a EaD, abruptamente. O Secretário da Educação rebate todas as críticas. Segundo ele, o programa tem tido sucesso entre alunos e professores; há lives quase diárias com professores para dirimir as dúvidas e dificuldades; uma parceria com as operadoras de telefonia proporciona aos alunos e professores o uso de dados patrocinados pelo Estado; na primeira semana, foram 1,5 milhão de alunos conectados às aulas. Mas, apesar de todo o “sucesso entre alunos e professores”, o Secretário usa algumas expressões e frases que negam esse “sucesso” – “estamos adaptando o conteúdo”, “estamos tentando correr atrás” (do prejuízo?). E apela para o sentimentalismo: “É o momento de solidariedade". Ele, que nunca demonstrou essa solidariedade com o magistério, antes. Em seguida, o Secretário, que apela para o sentimento de solidariedade do magistério, afirma que “os professores têm de sair da zona de conforto”. Ou seja, o problema volta para os professores. Se o projeto não der o resultado esperado, a culpa será dos professores, que não “saíram da zona de conforto”.

Cabe uma pergunta ao Sr. Secretário: essa “solidariedade” inclui os “professores preguiçosos que ficam em casa tomando suco de laranja”? Inclui professores, gestores, supervisores, dirigentes – todo o magistério - cuja carreira a Secretaria da Educação pretende extinguir, através de um projeto de lei que já está pronto, aguardando apenas o momento adequado para ser encaminhado à ALESP?

Na zona de conforto está a cúpula da SEDUC. Os professores, gestores e supervisores estão numa zona de total desconforto!

 


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