Jornal Agora SP, de 29/03/10

Sala de aula vira cadeia na pior escola

Fernanda Barbosa
do Agora

Dentro da Escola Estadual Júlia Della Casa Paula, em Cidade Ademar (zona sul de SP) as salas de aula ficam atrás de dois portões de ferro trancados. O pátio interno é fechado por chapas de ferro azuis, e de dentro dele, as crianças não veem a luz do sol.

Do lado de fora do prédio, ainda dentro dos muros da escola, o espaço que deveria ser de recreação para as crianças é passagem para os moradores do local. "O último diretor tentou fechar a escola com portões e correntes, mas eles [populares] tiraram tudo", afirmou a diretora Maria Evelma dos Santos, que está há oito meses na unidade.

A escola foi a mais mal avaliada da capital no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) 2009 de 5ª a 8ª séries, com nota 1,28. A instituição também foi a segunda mais mal avaliada do Ensino Médio --0,61. Na última sexta-feira, o carro da diretora, que estava dentro da escola, foi atingido por uma pedrada.

A quadra fica nessa parte externa e os alunos não conseguem utilizá-la. "É perigoso tirar dez caras maiores do que eu de lá", disse o docente, que não quis se identificar. Ele contou ainda que já viu pessoas fumando maconha no colégio. Outro professor disse que já tentou dar aulas "com pessoas penduradas na janela, xingando".

Tantos problemas externos afetam o ensino, de acordo com os funcionários da escola. Um aluno de 14 anos, da 8ª série, ao ser questionado pela reportagem, errou o resultado de uma conta simples de dividir (1.416/2) e escreveu a palavra "esseção" - o correto é exceção. De acordo com a diretora, as principais dificuldades dos estudantes são português e matemática, mas os resultados estão sendo melhorados com aulas de reforço e com a sala de leitura - criada em agosto do ano passado.
Maria Evelma afirmou que, em 2009, cinco professores tiveram licença e os dois docentes eventuais não foram suficientes para atender aos alunos. "Até eu tive de ficar em sala de aula".

A diretora contou ainda que a falta de verba a impediu de levar os alunos para os passeios culturais. "Hoje em dia o aluno não se contenta com giz e lousa. Ele precisa de mais"

 

Decálogo
a ser seguido pelos gestores para a solução dos problemas de infra-estrutura das Escolas Públicas Estaduais


1
Se não houver merendeira na escola,
não será fornecida a merenda;

2
Se não houver pessoa responsável pela Biblioteca, ela permanecerá fechada;

3
Se não houver pessoal de secretaria,
de acordo com o módulo, não haverá entrega de documentos na DE;

4
Se não houver verba para compra
de material e manutenção da sala de informática, o local não será utilizado;

5
Se não houver recursos para reparos e vazamentos no prédio escolar,
não haverá consertos;

6

Se não houver recursos para pintura do prédio, o prédio não será pintado;

7

Se não houver verba para a contratação de contador para as escolas, não haverá prestação de contas à FDE;

8
Se não houver verba suficiente para a contratação de funcionários pela CLT,
o dinheiro será devolvido;

9
Se a mão de obra provisória
não for qualificada, será recusada;

10
Se as festas não tiverem o objetivo de integrar a escola à comunidade, não serão realizadas

A nossa escola é, por previsão constitucional, pública e gratuita. Portanto, ela tem de ser custeada pelos cofres públicos. Todas as omissões do Estado, com relação aos itens acima, deverão ser objetos de ofícios da direção às Diretorias Regionais de Ensino, a fim de isentarem o diretor de eventuais responsabilidades administrativas.
Toda e qualquer ameaça de punição aos diretores associados da Udemo, por tomarem aquelas atitudes, será objeto de defesa jurídica por parte do Sindicato, seguida de denúncia ao Ministério Público e propositura de Ações Civis Públicas contra o Estado, pelo não cumprimento das suas obrigações para com as unidades escolares e pelos prejuízos causados à comunidade escolar.