> O Tempo, 31/05/2010 -
Belo Horizonte MG
Muitos pela educação,
poucos pelos professores
Procópio
Cardozo Neto
Como praticar justiça salarial
aos professores? Se o leitor procurar respostas nas contas do orçamento
público, certamente não serão encontradas.
Mas, se quiser garantir qualidade no ensino, há necessidade
de remunerar melhor os profissionais da educação.
Do ponto de vista do orçamento público, é uma
conta que pode ser feita na rubrica de custos ou na de investimentos.
Atualmente, a administração pública encontra-se
refém da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas não é
essa a única lógica a prevalecer.
Defender a educação
é lugar-comum, mas, contraditoriamente, poucos defendem os
professores. Desnecessário enumerar as razões óbvias
de que educação não se pratica sem mestres.
Mas é comum deparar com algum equívoco que ofusca
essa premissa. A prioridade educacional do país é
alcançar o acesso universal à escola, mas a valorização
do magistério não acompanha esse princípio.
Relegados ao segundo plano na política educacional do país,
cumpre aos professores conquistarem a solidariedade da sociedade
civil. Ao Estado cabe garantir a educação, mas é
a sociedade civil a principal interessada nos frutos obtidos através
da educação. O Brasil encontra-se numa encruzilhada
entre avançar na direção dos países
desenvolvidos ou retornar a persistentes ciclos viciosos. Para seguir
em frente, somente através da estrada da educação
é possível alcançar o desenvolvimento pleno.
Nenhum país chegou lá a não ser através
dessa estratégia. Não existem atalhos.
A nação tem que
fazer suas escolhas sob pena de fragmentação das conquistas
alcançadas até aqui com imensos sacrifícios.
A tecnocracia considera a mão de obra barata uma das vantagens
comparativas do Brasil. Em nome desse paradigma, vários sacrifícios
foram impostos aos trabalhadores brasileiros. Se várias categorias
libertaram-se desse preceito e conseguiram melhorias salariais,
o mesmo não aconteceu com os professores. Quando trabalhei
no Qatar, testemunhei o extraordinário poder transformador
da educação. Em apenas três décadas,
de povos beduínos os qatarianos alcançaram um dos
melhores índices de desenvolvimento humano do planeta. Lá,
o magistério é a categoria mais valorizada. O país,
que só tinha petróleo e deserto, hoje tem conhecimento.
Educação é
custo ou investimento? Essa é a pergunta certa a se fazer
neste curso da história do Brasil. Na visão de estadistas,
recursos públicos aplicados na educação são
investimento; na ótica míope dos tecnocratas, é
custo. Trata-se de diferença crucial para o país:
escolher entre o comodismo de continuar sendo um dos maiores vendedores
mundiais de commodities ou aplicar os royalties recebidos dessas
vendas na educação. Recursos naturais se esgotam e
privam as gerações futuras de usufruí-los.
Conhecimento, ao contrário, é uma riqueza legada às
próximas gerações. São essas as respostas
para corrigir as injustiças salariais praticadas aos professores.
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