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Correio Braziliense, 19/07/2010 - Brasília DF
Pena Capital - Magistério

“Não sei como é o nome da atitude agressiva de aluno com o professor. E o remédio: cinto de couro? Ou palmatória, considerando que os jovens, muitos deles, também hostilizam seus pais”
Eduardo Almeida Reis

Não sei se o leitor do Correio tomou conhecimento de um fato ocorrido em Belo Horizonte, MG. Na Escola Estadual Doutor Aurino Morais, bairro chamado Barreiro, um professor de matemática reuniu seus alunos para explicar determinado problema. Um guri de 13 anos disse que não participaria do grupo. O mestre expulsou-o da sala, mas o diabinho disse que não sairia. Em seguida — tudo filmado pelo celular de um colega — levantou-se e partiu para cima do professor gritando: “Vou te matar!”. O professor deu-lhe um murro na cara e chamou a Polícia Militar, antes de pedir desligamento da escola onde ganhava o pão. Foi o bastante para ser criticado por psicóloga ouvida pela reportagem. A profissional da área psi condenou o murro e disse que o menor deveria ser protegido pelo Conselho Tutelar, ou coisa que o valha. Só faltou dizer que o professor deveria deixar que o bandido mirim o matasse, o que não seria difícil considerando que, hoje, muitos alunos vão armados para a escola.

No mesmo dia, a Polícia Militar aprendeu um menor, regulando em idade com o tal aluno, que comercializava à luz do dia 200 (duzentos) papelotes de cocaína, na esquina mais movimentada do centrão da cidade. O jovem comerciante já deve ter sido aconselhado pelo Conselho Tutelar e pode estar de volta ao seu ponto de venda de drogas. Ano passado, acho que lhes contei, uma professora de minhas relações, lecionando no curso noturno de outra escola estadual — alunos acima de 16 anos — foi hostilizada por um dos seus discípulos com a seguinte observação: “Sua profissão é uma m...! Boa é a minha.”, disse o rapazola, botando sobre a mesa da professora um monte de dinheiro e uma pistola carregada.

Como proceder? Se denunciasse o aluno, em 15 dias ele estaria solto e voltaria para matá-la. Discutir com ele? Argumentar que o magistério é a mais nobre das profissões? A decisão mais prudente foi pedir transferência de escola alegando motivos particulares. São dois casos entre milhares que se repetem, quase diariamente, no Brasil inteiro. Um saiu nos jornais e na tevê; o outro me foi contado pela professora, mas há milhares que a gente nem fica sabendo. Cabe a pergunta: onde será que as coisas vão parar? O bullying já foi dicionarizado: “s. m. Toda e qualquer forma de atitude agressiva, intencional e repetida, que ocorre sem motivação aparente, entre estudantes, no ambiente escolar, dentro de uma relação desigual de poder; comportamento agressivo entre estudantes, sem nenhuma justificativa. Pl.: bullyings. Pronuncia-se búliin”.

Não sei como é o nome da atitude agressiva de aluno com o professor. E o remédio: cinto de couro? Ou palmatória, considerando que os jovens, muitos deles, também hostilizam seus pais. Vejo na internet que a palmatória foi introduzida no Brasil pelos jesuítas como forma de disciplinar os índios resistentes à aculturação. No fim do século 19 a palmatória migrou para as nossas escolas. Não me lembro dela no meu tempo de estudante, mas dizem que durou até 1970 e só foi definitivamente abolida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990. A Inglaterra só a proibiu em 1989, mas seu uso ainda é popular nas escolas de alguns países orientais, que, a propósito, têm educação mil vezes melhor que a nossa. Como sair da entalada em que está metido este país grande e bobo?