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Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, de 14/08/10

Compram-se alunos

Editoriais

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Foi infeliz, e deveria ser abandonada, a ideia do governo de São Paulo de oferecer recompensa monetária aos estudantes da rede pública que aceitarem tomar aulas de reforço em matemática.

Mesmo de um ponto de vista estritamente pragmático, é difícil crer que uma cédula de R$ 50, entregue às mãos de uma criança de 11 ou 12 anos de idade, represente o incentivo melhor e necessário para a frequência às sessões extras de estudo.

É de educação que se trata e é dessa perspectiva que a iniciativa precisa ser avaliada. Que tipo de lição o poder público dará aos estudantes de 6º e 7º anos ao lhes oferecer dinheiro em troca do comparecimento à sala de aula?

A atribuição de preço específico, seja ele qual for, a valores que não podem nem devem ser trocados no mercado tende a debilitá-los. Há comportamentos que devem ser perseguidos independentemente do benefício material que possam gerar. Esse princípio vale para a honestidade e o respeito ao próximo. Vale também para o esforço escolar. Parece óbvio, mas o governo do Estado, ao que tudo indica, não aprendeu essa lição.

É lamentável, sobretudo, que essa proposta enviesada venha macular um esforço elogiável da atual gestão para melhorar o desempenho dos alunos em matemática, verdadeiro calcanhar de aquiles do ensino público no país.

O projeto de tutoria acerta ao organizar aulas de reforço da disciplina, oferecidas pelos bons estudantes do ensino médio a seus colegas na etapa fundamental. O temor de que os mais novos faltem ou desistam do programa é que veio incluir a recompensa argentária na discussão.

Há outros meios para manter as crianças em sala de aula. É preciso melhorar a qualidade e a motivação dos professores e as condições de infraestrutura dos colégios, tornando-os mais atrativos para os alunos. Quanto custará, ainda, para o poder público realizar com competência esse trabalho?