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Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, de 06/09/10

RICARDO YOUNG

Educação de qualidade

A sociedade e também as empresas, no Brasil e lá fora, estão buscando líderes socialmente responsáveis, que se preocupem tanto com os aspectos econômicos quanto com a maneira pela qual obterão esses bons resultados. Como deve ser este líder?

Numa palestra aqui no Brasil, no ano passado, John Wells, ex-professor de Harvard e presidente da IMD, prestigiosa escola de negócios na Suíça, arriscou uma definição ousada: o "líder 21" será alguém mais parecido com Che Guevara do que com Jack Welch. "Duro", "agressivo", "de longo prazo", mas sem perder a ternura jamais.

Para Wells, líder responsável é resultado de um binômio que mistura vivência e educação de qualidade para todos.

Porque será da quantidade que surgirão os executivos e políticos da transformação pela qual a sociedade precisa passar para construir uma nova civilização.

No Brasil, temos vivência, mas não temos educação de qualidade para todos, em que pesem os avanços recentes e alguns centros de excelência, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).

A verdade é que o país nunca tratou a educação com o devido respeito. Por isso, não se preparou para enfrentar o ciclo de mudanças que se avizinha, nem o atual momento de crescimento econômico.

O resultado? O "apagão" de mão de obra qualificada que vai além da falta de profissionais. Faltam, mesmo, competências técnicas e comportamentais. Mesmo os universitários não conseguem atender o perfil ético e responsável exigido aos gestores de hoje.

Pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) mostra que, na relação com o PIB, somos um dos três países que menos investe em educação, dos 34 pesquisados.

E, no âmbito empresarial, a ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento) verificou que os treinamentos ministrados não igualam o nível dos profissionais brasileiros ao de seus colegas estrangeiros na mesma função.

O cenário parece sem saída, mas não é. Algumas das mais importantes entidades de educação do país, lançaram, com a Unesco, uma carta-compromisso aos candidatos deste ano, com propostas para execução até 2013, que incluem valorização do profissional da educação, padrões de qualidade para todas as escolas brasileiras e mais vagas na escola profissionalizante. Precisamos exigir dos eleitos total prioridade a estes objetivos. A educação tem de sair do atalho e pegar a estrada principal. O preço de mais um descaso será a perda da janela que a história nos escancarou para que, finalmente, possamos atingir a prosperidade e a justiça social que sonhamos.


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras no jornal Folha de São Paulo.