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Matéria publicada no Jornal da Tarde de 20/09/10

Bullying faz aluno deixar escola

Há um ano, o garoto L., de 9 anos, começou a virar alvo de gozações da turma na tradicional escola particular Ofélia Fonseca, em Higienópolis, região central da capital. De lá para cá, o assédio aumentou progressivamente até culminar com uma “brincadeira” que o levou a trocar de colégio: duas semanas atrás, a pedido de alguns colegas, L. pôs a cabeça no vaso sanitário e enfiou a língua dentro d’ água.

Os pais do menino e a direção da escola não souberam como agir no caso de L., aluno do 4º ano do ensino fundamental do Ofélia Fonseca. O caso gerou um jogo de empurra de responsabilidade entre a família da criança e o colégio.

Quando soube do episódio, a mãe de L., a jornalista Ana Paula Feitosa, de 38 anos, ficou muito nervosa e incomodada com a falta de ação da escola, onde seu ex-marido havia estudado. “Fiquei sozinha nessa história. Achei um descaso”, conta ela, que diz ter procurado o colégio por várias vezes no último ano para tentar dar fim às chacotas contra o filho.

O dono do Ofélia Fonseca, Sergio Brandão Sobrinho Neto, diz que foram “tomadas as medidas” e afirma estar “tristíssimo” com o caso, que culminou na transferência de L. e na expulsão de outro aluno, supostamente um dos algozes. “Foi como perder um filho.” Para Sobrinho Neto, a fragmentação das famílias, com pais ausentes, atrapalha o ambiente escolar. “Às vezes, as crianças chegam chateadas e têm atitudes imprevisíveis. Elas não dão problema. Os adultos, sim”, diz o empresário.

A história de L. não é um caso isolado de bullying em escola particular. Com medo da repercussão negativa, os colégios em geral abafam os episódios. Os pais, preocupados com o estigma, também escondem a situação.
Ana Paula preferiu inverter a lógica do silêncio e, para se livrar da angústia que não passava, decidiu contar a história de seu filho.

“Ele sempre foi fechadinho, imaturo e quietinho. É filho único. Mesmo assim, nunca achei que fosse acontecer com ele. Agora, sempre alguém vem com um caso para me contar”, diz.

A opinião dos especialistas

Para especialistas, a jornalista e o pai do menino, o técnico em eletrônica Marcelo Cortelazo, de 37 anos, agiram corretamente ao dividir a experiência com outras pessoas. A psicóloga Lídia Webber, do Núcleo de Análise de Comportamento do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, diz que não é possível esconder esse tipo de situação.

A psicóloga considera saudável que o tema seja amplamente discutido pela sociedade e diz que as escolas, tanto particulares como públicas, não têm adotado estratégias eficientes para dar conta da violência entre crianças e jovens – e ela tem se intensificado. “Lá fora o bullying é tratado na base da tolerância zero”, afirma Lídia. 

E isso não significa que as crianças sejam punidas pelo Estado. Ao contrário, ao menor sinal de que algo anda mal, providências intensas são tomadas, envolvendo pais e direção. “O menino que faz o bullying tem que sofrer consequências dentro da escola”, diz.

Para educadores, acompanhamento escolar cuidadoso e constante é necessário. No caso do Ofélia Fonseca, medidas para sanar a situação de L. foram tomadas, como conversas entre as crianças e tentativas de conscientização. “A escola, muitas vezes, faz alguma coisa. Mas essas ações precisam de tempo para amadurecer”, diz a pedagoga Cléo Fante.

O QUE É BULLYING

- Do inglês, a palavra bullying ou cyberbullying (com o uso de tecnologias) é empregada para designar agressão física, verbal ou psicológica entre colegas, que ocorre repetidas vezes e sem motivação